quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Juvenóide? Que bicho é isso?

Inseticidas juvenóides são produtos que, como o próprio nome diz, atua sobre as fases jovens dos insetos. Também são conhecidos como IGR (Insecticides Growth Regulators - inseticidas reguladores de crescimento).

Os inseticidas comuns são geralmente considerados adulticidas, ou seja, atuam nas fases adultas dos insetos, e normalmente também, nas fases de larva, quando estas estão presentes no ciclo. É o caso, por exemplo, da mosca e da pulga. No caso estes insetos possuem ciclo completo: ovo, larva, pupa e adulto.

Outros já saem dos ovos em sua fase jovem, apenas crescendo e se desenvolvendo até chegar à fase adulta, sem sofrer metamorfose, mas sim ecdises, que é o nome dado às mudas de "casca" dos insetos. A medida em que vão crescendo, o exoesqueleto, que é esta "casca" feita de quitina, vai ficando apertada. Para continuar se desenvolvendo, eles precisam abandonar este exoesqueleto apertado e formar um novo, que permita o seu crescimento.

Por exemplo, as baratas, no caso dos insetos, e os carrapatos, no caso dos aracnídeos. Ambos são considerados de ciclo incompleto, pois não passam pelas fases de larva e pupa. Nestes, o que sai do ovo já é uma forma jovem (também chamada de ninfa), que vai crescendo e se desenvolvendo com o passar do tempo. Nestes, o adulticida age com mais facilidade em praticamente todo o ciclo, visto que na maioria dele o inseto está exposto à ação do inseticida.

Então os inseticidas adulticidas agem sobre formas jovens (ninfas ou larvas) e adultos. E os juvenóides, sobre as formas jovens (ninfas, larvas) e pupas. Dizem alguns que o juvenóide atua um pouco sobre os adultos também, não matando, mas fazendo com que tenham problemas para se reproduzir. Outros também dizem que atua sobre os ovos, assim como também já ouvi que estavam sendo divulgados estudos comprovando a atuação da lambdacialotrina (adulticida) em ovos. Mas como todo mundo comenta isso em off mas ninguém até agora comprovou nada, é melhor considerar que são possibilidades ainda não confirmadas.

Mas como esse tal juvenóide funciona?

O juvenóide de que estou falando inibe a formação de quitina no inseto, que é a substância que forma o exoesqueleto, a "casca" que o protege. Sendo assim, ele age diminuindo suas proteções naturais, durante as fases jovens (ninfas e larvas) e também na formação da pupa.

Um carrapato, por exemplo, desde a eclosão do ovo até o atingimento da fase adulta, sofre sucessivas ecdises (troca do exoesqueleto para acompanhar seu crescimento). O juvenóide não permite que se forme uma nova camada de quitina.

Já em insetos que possuem ciclo completo, ele faz com que o corpo da larva fique muito mole e acabe explodindo. Tive acesso também a um artigo [1] que avaliava a eficácia de um IGR no controle do mosquito da dengue, e que indicava os maiores percentuais de mortalidade nas pupas.

Mas então, se esse "troço" é tão bom, porque todo mundo não usa ele?

Bom, um dos principais motivos é que esse "troço" não é muito conhecido. Mas também tem outra razão: geralmente os produtos juvenóides são mais caros, quando geralmente o uso do inseticida adulticida por si só já é suficiente para efetuar o controle, porém a associação do adulticida com o juvenóide daria uma resposta mais rápida em situações mais críticas em termos de controle. Em contrapartida, geralmente a dosagem necessária costuma ser baixa, em comparação com a maioria dos adulticidas.

Então, acaba sendo, como sempre, uma questão mais estratégica. Na vistoria prévia devem ser avaliados o tipo de praga, o ambiente, as condições de higiene, entre outros, para estabelecer a melhor estratégia de controle.

Por exemplo, em situações de baixa população de pragas de controle relativamente fácil de ser resolvido com um inseticida adulticida comum, eu não vejo a necessidade de usar um juvenóide. Porém em altas infestações de pragas como pulgas, bicho-do-pé e carrapato, em áreas sujas ou arenosas, o juvenóide associado ao adulticida atuaria sobre praticamente todas as fases de desenvolvimento, tornando o controle populacional mais rápido. E nos casos destas pragas, em que seria necessária uma segunda aplicação, é bem provável que esta não precise do juvenóide, apenas do adulticida para fazer a manutenção do controle.

Vale ressaltar que o objetivo do juvenóide não é ser usado sozinho, mas associado a um adulticida eficiente, quando se entender que o juvenóide deve ser usado.


Importante: O juvenóide, por atuar sobre a formação de quitina, não deve ser aplicado em ambientes que tenham a presença de crustáceos, tais como água do mar ou rios que desemboquem no mar.

Semana que vem tem mais!

Abraços e bons negócios!

[1] RESENDE, Marcelo; GAMA, Renata. Persistencia e eficácia do regulador de crescimento pyriproxyfen em condições de laboratório para Aedes aegypti. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, v. 39, n. 1, jan-fev 2006, p. 72-75. Disponivel em http://www.scielo.br/pdf/rsbmt/v39n1/a14v39n1.pdf

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Novamente sobre feijões...

Pessoal,

No dia 01/08/2008 coloquei um post alertando para que vocês tenham sempre muito cuidado antes de acreditar em qualquer bobagem que circula pela internet.
(http://xo-praga.blogspot.com/2008/08/no-acredite-em-tudo-que-ouvir-feijes.html)

Eu tinha escrito isso por causa de uma recomendação que uma profissional conceituada havia feito, de utilizar feijões crus como raticidas, porque eles não seriam tóxicos aos seres humanos e outros animais que não os ratos (afinal, nós comemos feijão quase todos os dias e muitas vezes damos as sobras para nossos bichos de estimação).

Pois o assunto repercutiu tanto, que além de chegar a mim para que eu escrevesse no blog, chegou também aos ouvidos (ou olhos) de outro profissional e pesquisador bastante conceituado, que deu um jeito de esclarecer tudo.

Em resumo, ele diz que existem algumas toxinas (na verdade proteínas danosas) são encontradas no feijão cru que atacam mamíferos monogástricos (que só têm um estômago, excluindo, por exemplo, os bovinos, mas incluindo neste grupo os humanos, caninos, felinos, roedores e uma série de outros). Depois de cozidos os feijões, estas proteínas são destruídas, por isto podemos comer feijão cozido sem sofrer nenhum problema fatal.

Ele também alerta para o fato de que por estas razões, seria extremamente perigoso utilizar os feijões crus, pelo risco de serem ingeridos por alguma criança, o que poderia, dependendo da quantidade, levá-la à morte.

Outra colocação interessante do pesquisador é que os ratos, por um instinto natural de proteção, não gostam de feijão cru... Isso dificulta um pouco o controle usando esta isca, já que no caso de iscas, a atratividade tem extrema importância.

Caso você queira verificar na íntegra o que este pesquisador escreveu, segue o link abaixo:
http://www.pragas.com.br/noticias/dstq_main.php

Um grande abraço a todos, bons negócios e até a próxima semana!

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Expoprag 2008 - eu fui!

Como os leitores habituais já sabem, o objetivo deste espaço é trazer novidades ao mercado de controle de pragas.
A intenção é auxiliar os empresários do setor a terem uma preocupação com a profissionalização de suas empresas, pois é preciso acabar de uma vez por todas com a visão que muita gente tem de que controladores de pragas são "picaretas", pois a grande maioria não é.
A grande maioria são empresas sérias, preocupadas em se atualizar e prestar um serviço de qualidade aos seus clientes, e com isso crescer cada vez mais no mercado. Este é o caminho. Isto é um crescimento sustentável, diferente de fazer um anúncio em algum meio de comunicação de massa, fazer muitos serviços, mas depois, no final das contas, ter muito poucos clientes verdadeiramente fiéis e que indicariam o serviço a seus amigos.
Esta preocupação precisa estar presente na sua empresa! A profissionalização do setor é um passo muito importante neste sentido. Mas não é o único. Não pretendo entrar novamente no mérito da questão, até mesmo porque já falei sobre isso antes, mas a existência de uma associação ativa e forte também é muito importante para lutar por essa profissionalização.
Mas o assunto hoje é a Expoprag 2008, que ocorreu entre os dias 20 a 22 de agosto, em São Paulo. A feira é realmente muito interessante, apesar de apresentar relativamente poucas novidades em relação ao que já se conhece do mercado.

Mas é um espaço muito interessante para conhecer os fabricantes, estreitar o relacionamento com as pessoas que trabalham nas empresas que fabricam os produtos que você usa, e eventualmente conhecer algo novo que surge.

Se você já esteve presente num evento destes, sabe o que estou falando, se não esteve, recomendo que na próxima edição (em 2010 - a feira ocorre a cada 2 anos) você reserve pelo menos um dia para dar uma passeada pela feira.
Os principais fabricantes costumam marcar presença. Outra coisa interessante de se fazer, caso você tenha disponibilidade, é assistir às palestras do congresso.
Embora tenha contado com palestrantes que são referência nacional em controle de pragas, poucas palestras foram relevantes para pessoal de nível técnico mais avançado, no que tange à atividade. Entre elas, destaca-se uma palestra de formação de preços e outra de controle de carrapatos. Fora isso, também foram apresentados temas interessantes, como a avaliação de risco de inseticidas (mostrando como são feitos os cálculos de DL50 oral e dermal), mas que para uma desinsetizadora geralmente não agrega muito em termos práticos.
Outra que gerou uma reflexão bastante interessante foi a "Controle de Pragas no Século XXI e Seu Impacto no Meio Ambiente". Entre as coisas que foram apresentadas, destaca-se a observação de que hoje ainda muitas empresas tem uma grande preocupação com a contratação e treinamento dos funcionários, pois como ocorre muitas vezes, este pode vir a ser um concorrente amanhã. A controladora de pragas do século XXI não pode mais se dar ao luxo de ter a preocupação de esconder seus "segredos", pois os produtos que usa estão por força de lei sendo informados aos clientes ou quem quer que tenha acesso aos laudos. A internet também surge neste contexto com força, quebrando barreiras antes intransponíveis da disseminação do conhecimento. Nela, toda ou quase toda a informação está disponível para quem quiser usar.
Pensando um pouco sobre isso, e acho que tem um bom fundo de realidade nisso tudo, me reforça a crença de que sua empresa tem que ter um algo mais para oferecer para o cliente. Qual o seu diferencial competitivo? O que o faz melhor que seus concorrentes? O que seus clientes valorizam e que seus concorrentes não estão enxergando, a ponto de torná-lo melhor que eles? Creio que é esta a reflexão que deve ser feita.
Produtos bons estão ao alcance de todos da mesma forma, conhecimento técnico também, para quem se interessa em buscar. O diferencial então deve residir em algum serviço ou relacionamento especiais, algum valor agregado que somente sua empresa tem condições de fornecer neste momento. Neste momento, porque a concorrência vai tentar copiar assim que perceber o que está lhe tornando melhor. E então você terá que se reinventar e trazer outras novidades.
Bill Gates faz isso com a Microsoft, cada vez que lança uma nova versão do Windows. Ele supera o próprio produto com uma versão melhor - aqui sem entrar no mérito se é melhor mesmo ou não - tentando sempre fazer isto antes que a concorrência o faça.
Voltando à Expoprag, uma das melhores palestras que assisti não tinha foco em controle de pragas, mas falava de inovação. De tanto em tanto o palestrante fazia um link com o nosso mercado, mas o foco da palestra de uma forma geral era a inovação. Fazer diferente. Uma palestra sem dúvida muito descontraída e interessante. O palestrante foi Luciano Pires (veja maiores informações em http://www.lucianopires.com.br/).
Outra cara para o mesmo tema: é preciso ser criativo e criar um espaço no mercado onde podemos ser líderes. Infelizmente não tenho mais muita coisa para acrescentar, mas caso eu possa ser útil em alguma coisa, fico à disposição dos leitores. De qualquer forma, o evento de uma forma geral foi muito bom. Recomendo a todos.
E já está marcada para o ano que vem a Sulprag: V Sulprag - 24, 25 e 26 de junho de 2009, em Joinvile - SC. Maiores informações visite http://www.acprag.com.br/.
Agradeço pela atenção e paciência dispensados. Desejo a todos bons negócios!
Um grande abraço!

domingo, 7 de setembro de 2008

Pregão Eletrônico

(continuação de post sobre negócios com órgãos públicos)

Em primeiro lugar, gostaria de me desculpar com os leitores da coluna por atrasar duas semanas a inserção de um novo post.

Quem está acompanhando sabe que ocorreu, no final de agosto, a Expoprag 2008, e eu fui lá conferir. Porém, como eu tinha prometido no último post que o próximo trataria sobre pregão eletrônico, a Expoprag vai ficar para a próxima semana. Geralmente a atualização acontece às quintas-feiras.

Pois bem, vamos ao pregão.

O pregão na verdade existe em duas modalidades: o pregão presencial e o pregão eletrônico.

No pregão presencial, as etapas são bastante similares ao convite, com a diferença que após a abertura das propostas, abre-se um espaço para que os concorrentes classificados dêem seus lances, ali, na hora mesmo.

Já no pregão eletrônico, o "leilão" é feito pela internet. Muitas vezes nem se sabe quem ou quantas empresas estão participando, apenas se tem acesso ao menor valor ofertado, que é o valor que o produto ou serviço será negociado.

No caso de pregão eletrônico, ocorre todo o processo e posteriormente apenas é avaliada a documentação e se o item cotado está em conformidade com o exigido no edital.

Em qualquer modalidade, o mais importante mesmo é conhecer detalhadamente o edital, e de preferência, as leis que regem as compras (estas estão indicadas no post anterior). Qualquer irregularidade por parte de um concorrente deve ser apontada para tirá-lo do certame.

Ainda há duas coisas que eu acredito estarem em desacordo, que acabam prejudicando empresas sérias que estão seriamente concorrendo no mercado.

Uma delas é a Lei Federal 123, também conhecida como Lei Geral das Micro Empresas. Esta lei dá benefícios exclusivos a Micro Empresas e Empresas de Pequeno Porte (ME/EPP). No caso de outros certames que não na modalidade de pregão, as ME/EPP, mesmo tendo um preço 10% acima do menor preço que seja ofertado por uma empresa não ME/EPP, ainda podem dar um lance posterior à abertura dos envelopes, no caso de um convite, por exemplo.

Isso vai contra o princípio da isonomia, garantido pela Lei 8.666 (lei das licitações), que é o princípio que garante o tratamento igualitário para qualquer empresa que participe de um certame, pois dá benefícios a algumas empresas em detrimento de outras.

Outra questão é que qualquer um pode participar de um pregão eletrônico, levando o patamar de negociação de um produto ou serviço a preços impraticáveis, e sendo posteriormente desclassificado por estar ofertando produtos ou serviços em desacordo com o solicitado no edital, ou mesmo por não apresentar a documentação solicitada.

Creio que seja importante iniciarmos estas discussões acerca destes aspectos das compras públicas, pois eu particularmente acredito que não sejam adequados.

Pois bem, por ora era isso, acho que acabou ficando grande demais. Caso tenham alguma pergunta ou algum comentário, por favor, não deixem de participar, adicionando um comentário abaixo.

E semana que vem tem mais.

Um grande abraço e bons negócios!