sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Entrevista Lucy Figueiredo e RDC 52/2009 ANVISA

Estou há horas já para escrever isso mas sempre acaba entrando outro assunto na pauta. Quem ainda não teve a oportunidade de ver, recomendo dar uma olhada na entrevista do Jô Soares com a Bióloga Lucy Ramos Figueiredo, Diretora Técnica da ABCVP, que mostrou todo o seu carisma. A entrevista é bem interessante (e mostra que o Jô consegue fazer graça com quase tudo mesmo). Além de algumas informações e curiosidades sobre baratas e ratos, foi excelente do ponto de vista das Empresas de Controle de Pragas a Lucy ter aproveitado o momento de projeção nacional para fazer um apelo para que as pessoas usem apenas serviços de empresas legalizadas.

Talvez não precisasse ter dito que a loja da Kopenhagen estava infestada com roedores (não creio que a loja tenha gostado deste tipo de exposição). Também creio que não se deveria dar idéia de misturar alimentos (no caso chocolate) com raticida, pois isso é um convite a acidentes domésticos - imagine alguém que tem camundongos em casa e resolve misturar chocolate com raticida e alguma criança come. Nós temos que ter consciência que o controlador de pragas tem a responsabilidade de lidar com produtos tóxicos e, apesar da relativa segurança, não podemos sair dando idéias para a população fazer as mesmas coisas sem saber o que estão fazendo.

Mas no final das contas, a Lucy e a ABCVP estão de parabéns por ter conseguido este momento na mídia. Ao final deste post você verá um link para a entrevista.

Sobre a RDC 52/2009, a ANVISA publicou uma nota de esclarecimento sobre o artigo 9, que diz que as Empresas de Controle de Pragas não podem ter suas bases operacionais em áreas adjacentes a escolas, residências, hospitais e empresas de alimentação, fazendo com que praticamente todas as empresas no Brasil estejam situadas em locais impróprios do dia para a noite. Na verdade, ainda não, pois o prazo de 180 dias para adaptação ainda não acabou, apesar de já estar quase na metade. Isso quer dizer que quem ainda não se adaptou tem pouco mais de três meses para fazê-lo.

Aí entra a importância do movimento associativista. A FEPRAG, que congrega as associações estaduais das empresas de controle de pragas, está se mobilizando e irá à Brasília nos próximos dias buscar uma solução para esse impasse, pois não é do interesse de ninguém que, passando os 180 dias, todo um setor seja jogado na clandestinidade, já que poucos têm condições financeiras e dependendo do município, até mesmo um local apropriado para se intalar conforme manda a nova regulamentação.

Eu pessoalmente acredito que neste momento é importante fazermos um movimento em conjunto, já que a ANVISA se viu obrigada a ceder aos Conselhos Profissionais a determinação de quais profissionais podem atuar como Responsáveis Técnicos, vejo como sendo de extrema importância que os Conselhos também entrem nesta discussão, pois eles têm uma força política já estabelecida, enquanto o setor de Controle de Pragas está procurando ainda mostrar que tem força.

O raciocínio é o seguinte: se sua empresa está devidamente legalizada, ela por força de lei possui registro no Conselho Regional de seu responsável técnico, no mínimo (aqui no RS muitas empresas estão registradas no Conselho do RT e também no CRQ - Conselho Regional de Química). Além de as empresas estarem registradas nestes Conselhos, os profissionais (químicos, agrônomos, veterinários, etc.) também precisam fazer uma anotação de responsabilidade técnica perante o seu respectivo Conselho.

Ora, se daqui a 4 meses, 95% das empresas (acho que estou chutando baixo esse percentual) estarão ilegais perante a nova regulamentação, portanto, não conseguindo licença para funcionamento, porque pagariam o Conselho Profissional, e mais, porque contratariam um Responsável Técnico??? Sendo assim, os efeitos negativos desta regulamentação vão obrigatoriamente decair também sobre os RT das empresas, bem como o Conselho Regional que eles e as empresas estão registradas.

Isso significa: 1) que os Conselhos terão uma diminuição significativa da atuação de seus profissionais como Responsáveis Técnicos, o que certamente não é de interesse nem dos profissionais, nem dos Conselhos; 2) que os Conselhos terão uma diminuição de arrecadação, pois perderão no Brasil todo, o pagamento de cerca de 3.000 empresas registradas, e de seus respectivos Responsáveis Técnicos, que não serão mais necessários, já que as empresas que continuarem funcionando estarão irregulares e o RT e o Conselho acabam sendo um custo desnecessário.

Cada Conselho sabe o que arrecada no mercado de Controle de Pragas Urbanas. Então creio que seja hora, além de tentarmos diretamente a mudança na ANVISA, usarmos as forças dos Conselhos. A minha sugestão é: Senhor Empresário: vá até o Conselho Profissional que você paga e fale sobre este artigo 9 da RDC 52. Diga que você não tem condições de mudar, assim como grande parte das empresas do Brasil. E diga que terá que fechar as portas se isto continuar assim, e provavelmente essa grande parte das empresas farão o mesmo. E se reúnam com seus Responsáveis Técnicos, e digam para eles comparecerem nos Conselhos também e dizer que vão perder a função de RT em função da RDC 52.

É um momento de mobilização. Façam isso, empresário de Controle de Pragas Urbanas e Responsáveis Técnicos. Milhares de empresas e funcionários, bem como a saúde da população, precisam disso. Chega de ficarmos sentados recebendo ordens de uma instituição chamada Governo que não liga para os problemas dos cidadãos. Vamos lutar!

Finalizo este post mandando um abraço para: Fernando, de Viamão, Sérgio Cancelli, Luciano Semensato, Gustavo Ahlert, Sérgio Ormondes que leram o post sobre a mensagem de final de ano ou outros e estão acompanhando o blog.

Clique aqui para ver a entrevista da Lucy Figueiredo no programa do Jô Soares.

Um grande abraço a todos e bons negócios!

sábado, 2 de janeiro de 2010

Alternativa ao uso de iscas mosquicidas (que estão em falta no mercado)

Amigos, antes de mais nada, me reportando aos leitores em relação aos temas tratados anteriormente (especificamente a publicação da RDC 52), a questão da localização das empresas deverá ser alvo de um esclarecimento da ANVISA. A FEPRAG consultou a gerência de saneantes e eles informaram que a interpretação da proibição das empresas de controle de pragas ao lado de escolas, residências, etc., não seria esta, eles teriam se expressado de forma equivocada e iriam fazer um esclarecimento oficial. O esclarecimento já está no site, e não melhora nada a situação do artigo 9. A FEPRAG está avaliando que atitudes podem ser tomadas na defesa dos interesses das empresas de controle de pragas.

Não costumo ficar discutindo questões mais técnicas, até porque tem tanta outra coisa importante para discutir, que isso acaba ficando em segundo plano. Mas há uma situação no mercado que resultou numa falta de iscas eficientes para moscas a preços acessíveis. Tenho visto uma busca por alternativas eficientes, para o que alguns estão chamando de "o ano das moscas", e é isto que me motivou a escrever sobre o assunto. O fato é que tenho ouvido muitas empresas comentando sobre a eficiência de um produto, que acredito que valha a pena tecer alguns comentários, pois quem usou ficou impressionado com o resultado.

Há alguns meses atrás ouvi falar de um produto que estava sendo registrado contra moscas, cupins, formigas, baratas e pulgas. Não quero entrar no mérito do produto em si, mas acho interessante levantar algumas questões sobre a molécula e a forma de ação.

Essa molécula apresentou, nos testes para o registro contra pulgas, uma mortalidade de 100% em 24 horas. Teve um excelente resultado no controle de baratas, inclusive da Blatella germanica, que é uma dor de cabeça para muitas empresas, e eu pessoalmente conheço muitas empresas que acabam usando produtos que não possuem registro para baratas porque não havia uma alternativa realmente eficiente nos casos mais críticos e que cumprisse os requisitos legais. Contra moscas então, um estouro. Ação rápida e fulminante.

Já que falei sobre alguns aspectos de controle que as empresas costumam ter dificuldade, vou entrar também em algumas explicações para o sucesso da molécula:
  • O nome da molécula é Thiametoxam, do grupo químico dos neonicotinóides. Todos sabemos que a rotação dos ativos é importante para o manejo da resistência. E conforme já tratado anteriormente aqui no blog, essa rotação deve se dar entre os grupos químicos, já que dentro do mesmo grupo o mecanismo de ação costuma ser semelhante, facilitando a adaptação de uma molécula para outra. Sendo assim, é uma alternativa para rotação de grupo químico, já que a grande maioria dos produtos utilizados hoje são dos grupos dos piretróides e organofosforados;
  • Diferente dos piretróides, essa molécula não tem ação de repelência, o que facilita com que o inseto entre em contato com o ativo pelo fato de o inseto não perceber a presença do inseticida. Isso é uma característica muito importante, e acredita-se que isso tem conferido ao produto um resultado tão bom. É por isso que a Blatella tem maior contato com o produto, por isso a mosca pousa com mais facilidade sobre as superfícies tratadas, por isso provavelmente que a taxa de mortalidade das pulgas é tão elevada em um curto período de tempo, e essa é uma das características que auxilia no controle de formigas e cupins, também. Vou confidenciar que fiquei sabendo de outras pragas que deu excelente resultado também, mas não posso incentivar as empresas a fazerem uso indevido, então vamos aguardar que saia outros registros...
Como se não bastasse isso, a molécula não causa irritação no aplicador (o que não dispensa o uso de EPI) e não tem cheiro. A toxicidade é baixíssima, muito menor do que piretróides, por exemplo, que são considerados produtos bastante seguros (informação baseada na comparação da DL 50 de diversas moléculas: diclorvós, bifentrina, deltametrina, propoxur, malathion, fipronil, clorpirifós, entre outras).
Voltando à questão das moscas, já que as principais iscas usadas no controle estão em falta, o que tem sido usado como alternativa é a adição de açúcar à calda com o Thiametoxam, formando uma espécie de isca para moscas. Como a molécula não tem efeito de repelência, esta isca tem uma atratividade muito boa. O feedback que tenho recebido é de que a fórmula consiste em misturar 100g de açúcar em 1 litro de água, com uma dose do produto (eu acredito que pode ser menos, diluindo uma dose em 5 litros de água e 500g de açúcar). É importante frisar algumas coisas. Primeiro, é interessante não misturar outros produtos, para não gerar um efeito de repelência, que é justamente o contrário do que se deseja. Sendo assim, também é recomendável utilizar pulverizadores especificamente para essa iscagem (há pulverizadores pequenos, de pouco mais de 1 litro no mercado que se tornam bem práticos para isso). Por último, essa calda não deve ser usada como uma pulverização geral, mas sim aplicando em pontos específicos que irão atrair as moscas (por exemplo, marco de portas e janelas do lado de fora, paredes externas, etc., locais que podem atrair moscas sem problemas).
A morte das moscas ocorre rapidamente, então a possibilidade de elas ficarem incomodando após pousar na isca é muito baixa, e pelos retornos que tive, a receita está resolvendo mesmo os casos mais problemáticos de controle. Repare que estamos falando do Thiametoxam registrado para uso domissanitário (registrado no Ministério da Saúde). Um outro produto com esta molécula que tem o registro para uso veterinário acaba ficando muito mais caro.
Pessoal, são essas as informações básicas que tive acesso a respeito da molécula e achei interessante dividir com vocês. Fiquem de olho, pois acredito que esta é a primeira molécula que está prometendo mudanças no controle de pragas nos últimos anos. Infelizmente nesse setor as novidades não aparecem com a freqüência que gostaríamos, então fica a dica: fique de olho...

Para finalizar, gostaria de mandar um abraço ao Sérgio Cancelli, que disse que acompanha o blog e está gostando. Obrigado, Sérgio, por acompanhar o trabalho e também aos demais que têm estado junto nessa caminhada!

Abraços e bons negócios!