quarta-feira, 15 de abril de 2009

Uso de raticidas proibidos no Brasil

É incrível que ainda se veja as pessoas usando raticidas agudos para tentar controlar roedores - e algumas outras espécies de animais, conforme você verá na série de reportagens indicada ao final.

Os nomes são muitos, Estricnina, Mata Sete, 1000 Gatos, Mão Branca, Sete Belo e Cachacinha são apenas algumas designações deste potente composto, à base de monofluoracetato de sódio - também conhecido como 1080.

Em Sobradinho/RS há alguns anos atrás, agricultores usaram o monofluoracetato de sódio para tentar controlar uma alta infestação de roedores e acabaram morrendo também diversos animais domésticos, além de cavalos, vacas, patos e galinhas. Provavelmente os animais ingeriram água contaminada com o composto. Eu também recordo que há muitos anos vi no jornal uma notícia de uma criança que morreu em um supermercado, se não me falha a memória, de Pelotas, após ter contato com uma isca no qual estava misturado o 1080. Em uma cidade do Paraná, uma criança teria morrido após ter tido um contato mínimo do lábio com o frasco do produto. O CIT de Porto Alegre estima que a dose letal do 1080 seja em torno de 5 mg/Kg para os seres humanos.

Outro problema do monofluoracetato de sódio é que ele não é biodegradável. Para ser inativado, precisa ser incinerado a uma temperatura acima de 1500 graus Celsius, o que pode produzir uma fumaça também altamente tóxica. Além disso, ele pode agir até o sétimo nível da cadeia alimentar, ou seja, se um rato ingerir o composto, morrerá. Se um gato comer este rato, também morrerá. Se um cachorro comesse este gato, também morreria, e assim por diante, pelo menos até o sétimo nível.

Este veneno tem ação muito rápida, o que impossibilita o desenvolvimento de um antídoto. Aliás, mesmo que houvesse, teria que ser administrado imediatamente após a ingestão do veneno, dada a sua ação imediata.

Esta ação imediata se torna uma desvantagem para o controle de roedores, pois os mesmos acabam associando as mortes à ingestão das iscas, já que os ratos acabam morrendo junto aos pontos em que se coloca este produto. Os demais roedores então, param de ingerir aquela isca. Isso faz com que o 1080 tenha uma ação rápida em alguns indivíduos, mas náo tem eficácia no controle da colônia.

Por todas estas razões, e mais ainda pelo fato de ser um produto proibido no Brasil, se faz necessário o uso de raticidas mais seguros, como os anticoagulantes, já que estes agem mais lentamente, permitindo que mais indivíduos da colônia tenham acesso ao veneno, ao mesmo tempo em que possuem uma dosagem bastante segura para seres humanos e animais domésticos, além de contar com um antídoto, a vitamina K1.

A nossa responsabilidade hoje, como profissionais do setor de controle de pragas, é combater esta ameaça à sociedade e à saúde pública. Infelizmente o trabalho não depende somente do nosso setor, já que o 1080 é encontrado com facilidade à venda em lojas agropecuárias, provavelmente trazido do Paraguai.

Abaixo trazemos links para uma série de reportagens que mostram um caso de comercialização do 1080 em lojas agropecuárias no município de Torres, no litoral norte do Rio Grande do Sul. Apesar de as notícias citarem apenas a agropecuária de Torres, o 1080 pode ser encontrado em agropecuárias de praticamente qualquer município brasileiro.

http://mediacenter.clicrbs.com.br/templates/player.aspx?uf=1&contentID=55855&channel=41

http://mediacenter.clicrbs.com.br/templates/player.aspx?uf=1&contentID=55959&channel=41

http://mediacenter.clicrbs.com.br/templates/player.aspx?uf=1&contentID=56020&channel=41

http://noticias.ambientebrasil.com.br/noticia/?id=44406

Você, profissional de controle de pragas, não pode ser conivente com este crime. Divulgue estas informações e alerte as pessoas que ainda fazem uso deste veneno, para o risco que elas estão trazendo a si mesmas e à sociedade.

No próximo post provavelmente traremos alguma novidade sobre a questão da associação das empresas de controle de pragas do Rio Grande do Sul, assunto já abordado em outros momentos e que deve voltar à pauta.

Abraços e bons negócios!

5 comentários:

Unknown disse...

Muito bom!!!

Li sobre o uso de raticidas proibidos, e acho que foi um abuso o que fizeram com a
agropecuária, pois como está no blog, concordo, que deve ter em todos municípios, pelo
menos uma ou mais agropecuárias que comercializam este produto (Monofluoracetado de
sódio), e não somente este, produtos inclusive que se passam por chumbinho, estricnina,
etc, que são produtos de uso Agrícola no Uruguai ou Argentina, que vem para o Brasil
para serem comercializados com o mesmo fim do 1080.
Claro que esse caso da agrop. de torres foi específico, deve ter sido alguma denúncia
feita por um cidadão, e aí onde a fiscalização faz monitoramento para pegar em flagrante, como aconteceu. As vigilâncias sanitárias devem agir nas agropecuárias com mais conhecimento, ou a ANVISA, determinar uma fiscalização mais rígida em relação aos
produtos clandestinos.

Fabrício
Vendedor Externo

Fabiano Ahlert disse...

Fabrício, você está certo quanto à indignação de terem pego o caso de Torres como se fosse o único no país. Bem sabe-se que muitas lojas têm produtos como este.
De qualquer forma, e te conhecendo sei que concordas, a venda deste produto é uma prática que precisa ser abolida pelos riscos existentes.
Obrigado por participar!
Abraços!
Fabiano

Anônimo disse...

Somente é raticida o produto registrado no M.S. / ANVISA. as demais formulações são produtos agricolas ou produtos contrabandeados e utilizados de maneira ilegal ou como desvio de finalidade.

Vamo Blogá!!! disse...

Olá Fabiano,

O "mão branca" bromadiolone também tem a venda proibida no Brasil?

Fabiano Ahlert disse...

Oi, "Vamo Blogá"!
Bromadiolone é um ingrediente ativo que ainda é vendido em alguns produtos comerciais registrados e legalizados no Brasil, assim como em outros países. Creio que a Tecnocell, a De Sangosse/Nitrosin, a Rogama são exemplos de empresas que comercializam produtos à base deste ativo.
Mas segundo me consta, Mão Branca é um dos muitos nomes de raticidas agudos vendidos ilegalmente. Duvido muito que seja a base de bromadiolone.
(desculpe a demora para responder, a mensagem acabou ficando perdida na moderação).
Espero ter ajudado.
Abraço!
Fabiano