sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Que produto devo usar? Critérios importantes na escolha do produto.

Em primeiro lugar gostaria de me desculpar por ter ficado duas semanas ausente. Eventualmente isso acontecerá, pois ocorrem picos de demanda em outras atividades, mas eu procurarei escrever religiosamente todas as semanas.

Refletindo sobre esta questão que tenho sempre visto como presente entre os gestores de empresas de controle de pragas e responsáveis pela compra dos produtos, resolvi hoje escrever sobre o assunto: como decidir entre diferentes produtos a serem utilizados no controle? Leia até o final, mesmo que o começo fique meio chato, pois creio que o conceito que vou apresentar pode fazer a diferença na sua empresa. São sete passos que devem ser compreendidos.

O custo é apenas uma das dimensões a serem analisadas. Outras dimensões que devem gerar uma preocupação tão importante quanto o custo seriam a legalidade do produto e da sua finalidade de uso, a eficiência do produto utilizado, a duração do seu efeito, seu rendimento e seu impacto no ambiente, por exemplo. Estes seriam os principais fatores a serem avaliados na escolha do produto.

Com isso você já pode ter uma noção de que o preço do produto não deve ser o único quesito a ser avaliado, mas vamos explorar um pouco mais a fundo estas questões.

Por exemplo, se usarmos um produto muito barato, mas ao mesmo tempo extremamente perigoso para o meio ambiente, será que estamos sendo corretos? Provavelmente não estamos computando o custo ambiental na seleção deste produto. Ou se usarmos um produto que não tenha registro no Ministério da Saúde, ou que esteja registrado para outro uso ou com dosagem diferente da que estamos usando, estaremos incorrendo em crime contra a saúde pública, pelo novo Código Civil.

Pois então creio que devemos começar a análise por itens classificatórios, como por exemplo:

1. O produto está registrado no respectivo órgão regulador? (geralmente Ministério da Saude)

2. O uso que pretendo dar a ele está de acordo com o as instruções do rótulo?

Veja bem, se a resposta a qualquer uma destas perguntas for "não", considere não utilizar este produto para a situação que você tem em mente. Ele pode até ser ótimo para outras finalidades, mas não para o que você quer. Atenção especial para a questão do registro. O produto tem que ter registro.

3. Qual o impacto do uso deste produto no meio ambiente?

4. Qual a forma e o tempo de ação do produto?

5. Se você já realizou algum teste, que resposta tem tido?

Estas três questões são mais subjetivas, não há como dizer que a resposta tem que ser esta ou aquela. As respostas simplesmente devem ser analisadas e comparadas para ir selecionando o produto. Mas a questão-chave que eu queria apresentar, que é uma análise que praticamente nenhuma empresa faz, é a que eu vou apresentar abaixo.

Para responder a ela, é preciso saber além do preço, a dosagem do produto e a área que esta dosagem permite tratar. Esta questão é crucial, e por causa dela, as empresas que não a analisam podem comprar um produto que o preço de 1 litro é mais barato, mas que no final das contas acaba custando mais caro, por causa da dosagem e da área que esta abrange. Na realidade o que estou sugerindo é que a escolha do produto seja feita numa análise de custo/dose/m2.

6. Qual o custo/dose/m2 dos produtos que chegaram até esta etapa?

Como calcular isto? Digamos que você comprou 1 litro de produto que custou R$ 100,00. Você olha a dosagem, que diz o seguinte: 100ml para 10 litros de água, aplicar em 200m2. O custo/dose/m2 deste produto é R$ 0,05/m2.

Explico. Se 1 litro custa R$ 100,00 e você tem que dosar o produto com 100ml, cada dose custa R$ 10,00 (10 doses X 100ml = 1 litro = R$ 100,00). Pois bem, se uma dose custa R$ 10,00, e deve ser aplicada em 200m2, então o custo/dose/m2 é de R$ 0,05/m2 (divida o custo da dose pela área). Simples, não? Pois agora você já sabe qual a melhor maneira de ver quanto lhe custa um produto e usar isto na sua decisão.

E agora a etapa que realmente vai decidir. Se durante todos estes passos você ficou entre 5 produtos, no passo 6 você terá uma idéia de custo real. Agora a próxima etapa é uma análise qualitativa. Você encontrará diversos custo/dose/m2. Mas ainda não descarte nenhum por ser maior ou menor, simplesmente analise quanto aos atributos de qualidade que você deseja. Por exemplo, tempo de efeito residual, nível de controle que propicia, e outros que você julgar interessante. No final das contas, você vai descobrir que muitas vezes aquele produto que você achava que 1 litro custava muito caro, na realidade não custa tão caro assim. Ou seja:

7. Analise o custo/benefício de cada um dos produtos, comparando entre eles seu custo/dose/m2 com os atributos qualitativos que você deseja.

Aliás, conforme alguns testes que fiz aqui, os custos de produto giram algo em torno de 4% a 10% do custo do serviço, dependendo dos produtos utilizados, o que é relativamente baixo se contar que a qualidade do produto influencia muito no resultado do serviço.

Eu acredito que com isso você vai ver que o custo entre comprar um produto baratinho e de qualidade duvidosa, que eventualmente dê algum problema, ou usar um produto de valor ligeiramente maior mas que seja confiável não compensa o risco de perder a credibilidade que você tem com o seu cliente.

Por favor, não abreviem o método usando apenas o cálculo que eu descrevi. As análises qualitativas são tão importantes quanto o cálculo do custo que eu sugeri, e através destas pode-se até mesmo no final optar por um produto de custo maior ou intermediário, tendo em vista os benefícios que ele oferece. Por isso usei a palavra custo-benefício. Mas geralmente a diferença de custo após o cálculo tende a ser pequena.

Estou querendo fazer uma planilha que ajude nestes cálculos, se alguém se interessar envie um e-mail para o endereço que está aí em cima à direita solicitando.

Bem, pessoal, ficou um pouco extenso mas eu creio que o assunto é bem importante para todos. Não deixe de conferir os eventos aqui no blog, também na barra da direita.

Bons negócios e até a próxima semana.

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Lidando com a variabilidade no controle de pragas

O mundo em que vivemos é essencialmente probabilístico. Não se sabe com certeza, por exemplo, apesar das previsões (que muitas vezes estão erradas), como será o tempo amanhã. Fará chuva? Fará sol? As previsões até acertam um pouco em curtos espaços de tempo, mas à medida em que o horizonte de tempo aumenta, aumenta também as chances de erros.

Outros exemplos... Quando você faz uma refeição utilizando uma receita para 4 pessoas, às vezes sobra um monte de comida, outras vezes dá bem certinho. Porque isso? Simplesmente porque essa quantidade não é determinística (cada pessoa come 300g de comida), mas sim probabilística (em média, as pessoas comem aproximadamente 300g de comida - se algumas pessoas costumam comer bem mais, essa média pode subir).

Algo que é fabricado também tem a sua variabilidade, e esta é uma das principais lutas em muitos meios de produção: estabelecer um padrão para os produtos. Por exemplo, uma fábrica de veículos produz 150 automóveis por semana. Apesar de o veículo ser bastante padronizado, há uma razoável variabilidade, pois alguns dos veículos podem apresentar problemas no motor, outros não. Um padaria, por mais que tente, não consegue produzir pães milimetricamente do mesmo tamanho e peso. Há uma variabilidade, portanto são eventos probabilísticos.

Eu li um artigo na internet que fala que o controlador de pragas está numa situação muito delicada. Ele lida com insetos (agentes biológicos, com comportamentos probabilísticos), utilizando inseticidas (os quais não tem controle sobre a produção, que como tudo o que foi falado, possui uma variabilidade inerente), em ambientes sobre os quais não controla as condições (clima, higiene, condições de habitação pelas pragas, etc.).

Ora, a variabilidade existe no mundo, e isso não podemos mudar - até certo ponto. Podemos sim, tentar manter esta variabilidade dentro de padrões aceitáveis. E isso não é uma escolha, é uma necessidade. Quer ver? Imagine que você vai comprar um carro e o vendedor muito honestamente, diz que aquele tipo de veículo apresenta problemas nos freios em 2% dos casos, e não há como diagnosticar, o problema simplesmente acontece de uma hora para outra. Você vai comprar aquele veículo, apesar de o percentual de problemas ser relativamente baixo? Outro exemplo: seu cliente quer que você faça um serviço de desinsetização e você diz que nem sempre funciona, às vezes tem que refazer. Você acha que ele vai fazer o serviço? Mesmo que você faça um repasse para resolver o problema, o cliente pode (ou não, olha a variabilidade de novo) não gostar disso e riscar o seu telefone da agenda dele.

Portanto, para um controlador de pragas ser bom mesmo, deve minimizar os riscos probabilísticos inerentes à atividade. Vamos por partes.

A variabilidade sobre o comportamento dos insetos: Você deve conhecer ao máximo os hábitos e biologia dos insetos com que está lidando, para ter uma maior chance de êxito no controle. Isso não vai garantir nunca que você estabeleça um método que possa ser utilizado em 100% dos casos, mas vai ser bem próximo disso. Eventualmente podem aparecer pontos fora da curva, insetos que estão se comportando de forma ligeiramente diferente e isso está dificultando o controle, mas serão casos mais isolados, em menor número, e você pode lidar com eles de forma mais específica. Mas o importante é abranger o maior número possível.

A variabilidade sobre o inseticida utilizado: Não adianta, alguma variabilidade no processo produtivo sempre vai existir. Em alguns casos mais, outros, menos. Por isso, neste item é fundamental que você tenha uma atenção especial. Escolha produtos de empresas que garantam a qualidade do produto, que lhe passem confiança de que o produto realmente funciona. Isso é muito importante. Até agora falamos de inseticida, mas o mesmo vale para o raticida. A qualidade do produto é um item muito importante no controle.

A variabilidade do ambiente: Algumas coisas podem ser mais controladas, outras, menos. Por exemplo, um serviço de controle de insetos em áreas externas está mais propenso a sofrer ação do tempo (chuvas, vento, sol) do que em áreas internas. Mas você pode, em parceria com seu cliente, indicar ações que possam potencializar o controle que você está realizando, tais como tapar bueiros, colocar tampas em latas de lixo, etc., coisas que com certeza você sabe melhor do que eu, e que acabam propiciando as condições de existência de pragas no local.

Bem, pessoal, esta semana é isto. A questão da variabilidade está presente em praticamente tudo, e temos que buscar um controle sobre as principais variáveis que influenciem no comportamento probabilístico do controle de ser efetivo, para nos tornarmos melhores.

Em meios de produção se usam ferramentas estatísticas que auxiliam neste processo. No caso de serviço de controle de pragas, não é necessário apelar para isto, mas sim atentar para os principais fatores que afetem negativamente ou positivamente o controle.

Um grande abraço a todos!