quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Se bobagem fosse eficiente contra pragas...

Eu tenho ouvido nesses anos todos na área de Controle de Pragas Urbanas cada coisa que a gente pensa que só pode ser piada. Lembro da época em que trabalhava em uma empresa controladora de pragas, de ter ouvido de um cliente a afirmação de que o rato depois de morrer virava morcego. Um absurdo.

Mas existe coisa pior do que isso. Pior do que uma pessoa leiga falando bobagem é uma pessoa que supostamente deveria conhecer o assunto da qual está tratando, falando bobagens até piores do ponto de vista das conseqüências que pode acabar gerando.

Fazendo pesquisas de notícias para o PortalPCO, esbarrei em um blog que possuía um post chamado “O malathion e a dengue”. O post ficou muito interessante porque o jornalista que o escreveu fez um apanhado de diversas notícias sobre o assunto e felizmente fez o alerta ao final para uma coisa que me chamou a atenção.

O texto começa falando que a Secretaria Municipal de Campo Grande (MS) adotaria uma série de medidas no combate à dengue. O coordenador do CCZ local informou que um novo inseticida seria utilizado no combate, e que este seria mais potente e não traria risco algum à saúde das pessoas. Esse “novo” inseticida é nosso velho conhecido e que já caiu bastante em desuso no segmento de controle profissional: o malathion.
Fiquei boquiaberto ao ver a asneira que esse profissional falou sobre o produto. Além de não ser novo coisa nenhuma, o malathion é uma molécula do grupo dos organofosforados, que já está sendo proibido em alguns países da Europa pela toxicidade geralmente mais elevada e pela agressividade de seus efeitos. E lá foi a Secretária-Adjunta de Saúde dar seu pitaco que também deve ser de especialista, dizendo que o “novo inseticida tem 100% de eficácia contra o mosquito da dengue”.

Meu Deus, avisem o pessoal das Vigilâncias do Rio de Janeiro e outros estados que estão com problemas de dengue, que o pessoal de Campo Grande descobriu a solução do problema! Uma asneira atrás da outra… Depois volta o coordenador do CCZ dizendo que o “novo inseticida é inofensivo para os seres humanos e animais domésticos”.

A diarréia verbal não pára por aí, quando retorna a Secretária-Adjunta para dizer que na pulverização o índice de controle é de quase 100% (ué, não era 100% antes?), mas que no “fumacê” o inseticida chega ao inseto em dosagem baixa, comprometendo toda a campanha anti-dengue.

Por favor, culpar a técnica de aplicação utilizada por pessoas sem um mínimo de conhecimento técnico, e que provavelmente estão fazendo quase tudo errado, é no mínimo descabido. O “fumacê”, ou termonebulização, é uma das técnicas de aplicação que se usa no controle de vetores e pragas urbanas. Assim como as demais técnicas, também possui um objetivo específico, uma forma correta de ser feita e deve ser utilizada em conjunto com outras técnicas de controle químico ou físico, exatamente da mesma forma que as outras. Tudo depende da situação e da estratégia de controle que se desenha.

Desculpem o desabafo, mas eu acho um absurdo que pessoas que deveriam se informar e se preocupar com o tipo de informação que passam, por supostamente serem entendidas no assunto, falarem tanta bobagem irresponsavelmente assim. Imaginem se as pessoas que viram essas notícias resolvem achar que o malathion é a solução para tudo que é tipo de inseto e resolvem colocar até em alimentos, por que um especialista falou que é inofensivo aos seres humanos?

O post do blog felizmente foi mais além e trouxe mais informações questionando a legitimidade das informações passadas por esses “profissionais”. Vale a pena dar uma olhada, coloquei o link ao final. Parabéns ao autor.

Para finalizar, dois pensamentos que me passaram pela cabeça quando li este mesmo post e mais uma outra notícia que informava sobre o início do fumacê em Bauru. O interessante é que ambos orientam que os moradores deixem suas casas com portas e janelas abertas “para melhor ação do inseticida”.

Primeiro me veio à mente a imagem de dezenas de casas completamente abertas à noite (a aplicação iniciaria 18:30), um prato cheio para os larápios de plantão. Só entrar e pegar. Depois fiquei pensando que faltou dizer que a população deveria deixar portas e janelas abertas durante a aplicação e que deveria ficar fora do local em que a fumaça está sendo aplicada, justamente para não se intoxicar. Mas se o “novo” veneno é “inofensivo”, acho que não precisa, não é?

Novamente: que absurdo…

Abraços a todos e bons negócios! E sigam acompanhando as novidades do PortalPCO!

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